Depois de ler esta reflexão de Bárbara Pessoa desdobrada em doses filosóficas sobre a condição de ser ou estar bêbado e concordar com a afirmativa de que tudo depende do "modo como cada um lida com suas questões" existenciais, vi-me impelido a invocar dois exemplos; um, de conotação dramática, e outro, em torno de como o ato de beber qualquer coisa adquire tonalidades líricas.
O primeiro diz respeito a famosíssimo bêbado escritor, que amargurava dias finais depois que fora alvejado por um câncer, que lhe varava o estômago. Trata-se de Dashiell Hamett, genial criador de romances policiais, entre os quais a obra-prima intitulada "O falcão maltês", de quem se dizia consumir um litro de uísque por dia.
Doente e triste, certo dia. ao acordar, após uma noite de contínuas dores e sofrimento, na saída do quarto, Hammett depara-se com sua mulher, a grande dramaturga Lillian Hellmann, que lhe pergunta:
"Querido, como está, como passou a noite?". Ao que responde Hammett: "Não, não passei bem". E ela: "Por que assim, querido?". E Hammett, de cenho carregado, lhe responde: "Por que dormi um pouco sóbrio".
Por fim, o segundo exemplo: um poema de Ruy Espinheira Filho, sempre lembrado, citado e declamado em bródios com os amigos, que consta de seu livro "Memória da chuva", 1996. Abaixo, a preciosidade, obra de poeta maior.
O primeiro diz respeito a famosíssimo bêbado escritor, que amargurava dias finais depois que fora alvejado por um câncer, que lhe varava o estômago. Trata-se de Dashiell Hamett, genial criador de romances policiais, entre os quais a obra-prima intitulada "O falcão maltês", de quem se dizia consumir um litro de uísque por dia.
Doente e triste, certo dia. ao acordar, após uma noite de contínuas dores e sofrimento, na saída do quarto, Hammett depara-se com sua mulher, a grande dramaturga Lillian Hellmann, que lhe pergunta:
"Querido, como está, como passou a noite?". Ao que responde Hammett: "Não, não passei bem". E ela: "Por que assim, querido?". E Hammett, de cenho carregado, lhe responde: "Por que dormi um pouco sóbrio".
Por fim, o segundo exemplo: um poema de Ruy Espinheira Filho, sempre lembrado, citado e declamado em bródios com os amigos, que consta de seu livro "Memória da chuva", 1996. Abaixo, a preciosidade, obra de poeta maior.
CANÇÃO DEPOIS DE TANTO
Vamos beber qualquer coisa,
que a vida está um deserto
e o coração só me pulsa
sombras do Ido e do Incerto.
que a vida está um deserto
e o coração só me pulsa
sombras do Ido e do Incerto.
Vamos beber qualquer coisa,
que a lua avança no mar
e há salobros fantasmas
que não quero visitar.
que a lua avança no mar
e há salobros fantasmas
que não quero visitar.
Vamos beber qualquer coisa
amarga, rascante, rude,
brindando sobre o já frio
cadáver da juventude.
amarga, rascante, rude,
brindando sobre o já frio
cadáver da juventude.
Vamos beber qualquer coisa.
O que for. Vamos beber.
Mesmo porque não há mais
o que se possa fazer.
O que for. Vamos beber.
Mesmo porque não há mais
o que se possa fazer.
Como se vê, tudo depende do "modo como cada um lida com suas questões"...
Em tempo: muito obrigado, Bárbara Pessoa, pelo texto que me sugeriu esta pertinente divagação. FM. (No Facebook, em 16.11.2017).
Em tempo: muito obrigado, Bárbara Pessoa, pelo texto que me sugeriu esta pertinente divagação. FM. (No Facebook, em 16.11.2017).
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