Um dos mais importantes músicos de jazz de todos os tempos, o trompetista americano Lee Morgan já esbanjava talento na adolescência. Infelizmente, porém, sua trajetória foi curta. O talentoso artista é uma das vítimas mais infames do jazz, devido às circunstâncias de sua morte, exatamente 50 anos atrás, em 19 de fevereiro de 1972. 

O filme é quase todo construído a partir de uma entrevista de Helen gravada por um radialista fã de jazz um mês antes da morte dela. Helen conta sua vida com Lee e relata em detalhes a noite em que matou o marido. Sua franqueza e arrependimento são comoventes.

Ao dividir a atenção entre Lee e Helen, “I Called Him Morgan” foge de alguns clichês do documentário biográfico. Mais que contar a vida de dois personagens, o filme tenta explicar como a relação dos dois salvou –e em seguida acabou– com a vida de Lee. É uma história muito triste, contada com talento pelo diretor Collin, e com uma trilha sonora fora de série. Confira ao trailer da produção: 

Nascido na Filadélfia, em 1938, Lee foi aluno de Clifford Brown. Participou de workshops com Miles Davis e Dizzy Gillespie, que se tornaram outras de suas influências. Em 1956, com 18 anos, Morgan passou a integrar a Big Band de Dizzy Gillespie e, primeiro, gravou seu disco solo para o selo Blue Note, “Indeed”.Nesse mesmo ano de 1958, Lee Morgan ingressou no grupo de Art Blakey Jazz Messengers. Ali ele desenvolveu seu talento de solista e de compositor. No álbum “Monin” (1958), um dos grandes sucessos do grupo, o trompete de Lee Morgan se destaca no solo da balada “Along Came Betty”. Também foi nessa época que Lee iniciou na heroína.

O vício virou um problema na vida do trompetista. Lee Morgan passou a andar desleixado, gastou todo dinheiro, sumiu de ensaios e shows. Foi expulso do Jazz Messengers, em 1961. Ninguém mais queria contratá-lo porque não havia a garantia que Morgan apareceria para tocar.

Estava no fundo do poço quando conheceu Helen Moore, uma mulher bonita e carismática que teve uma juventude miserável no interior dos EUA. Ela chegou a Nova York e logo se enturmou com músicos de jazz.

Era amiga de muitos músicos e sempre recebia para jantar, em sua casa. Lee Morgan apareceu por lá em um dia de inverno, estava sem casaco e sem o trompete. Helen ficou com pena e passou a cuidar de Lee em sua casa, obrigando-o a tratar-se fisicamente. Morgan levou dois anos mais longe dos palcos e dos estúdios, até conseguir se firmar novamente.

Ela tirou Morgan do vício em heroína, fazendo com que ele restabelecesse a plenitude de sua carreira. Casaram-se e Helen passou a cuidar de sua agenda, garantindo sua presença nos shows. Recuperado, em 1963 Lee Morgan gravou o primeiro disco da nova fase, “The Sidewinder”, referência em sua carreira.

De volta à primeira linha do jazz, Morgan era uma estrela naquele ano de 1972. Porém, sua relação com Helen já não era tão boa. Ela desconfia que ele teria outra mulher. 

Morgan estava fazendo um show no clube Slugs’ Saloon de East Village, em Nova York. No intervalo, Helen chega para assisti-lo tocar e encontra Lee, na mesa dos músicos, com outra mulher. Os dois discutem, ela saca um revólver da bolsa e lhe dá um tiro no peito. Uma tempestade de neve atrasou a chegada de ajuda médica, e o músico sangrou até a morte por causa do ferimento.

Lee Morgan deixou sua marca de virtuoso do trompete em sua carreira solo e em discos de outras lendas do jazz, como o saxofonista John Coltrane, o baterista Art Blakey e o organista Jimmy Smith. Cinquenta anos após a morte, sua influência na música permanece vigorosa.